Por Kátia Moraes
Linda acredita que suas bonecas dos orixás dançam durante a noite e lhe transmitem energia enquanto ela dorme. Cada uma delas conta uma história diferente da Bahia e mantém acesa a paixão que ela tem pelo Brasil.A co-diretora artística da Companhia de Dança Viver Brasil (junto com Luiz Badaró) nasceu em Danville, Illinois, de pais judaicos, e hoje mora em Los Angeles, na Califórnia. Ela estudou balé, jazz e sapateado quando era menina e gosta de cores fortes como rosa choque, vermelho e amarelo ouro. A primeira lembrança que Linda tem da cultura brasileira é a de um disco de MPB gravado por cantores israelitas que ela escutou em Israel durante suas visitas entre 1977 e 1981.
Alguns anos depois, Linda leu um artigo que falava sobre a importância política dos blocos afro da Bahia. Quando ela estava estudando na University of Illinois, ela assistiu a um espetáculo produzido pelo antropólogo de dança Pearl Primus que apresentava a cultura africana através da dança. Naquela época, Linda estudava psicologia e dança, mas com esse espetáculo ela compreendeu que o descobrimento de uma outra cultura, a possibilidade de conhecer o mundo e de se comunicar com as pessoas teriam que fazer parte de sua vida para sempre.
Um dia alguém disse à ela que seu lugar de nascimento tinha sido um erro geográfico. Quando sorri, Linda me conta essa história e responde rápido quando pergunto o que lhe vem à cabeça quando menciono o Brasil: “Orixá, o mar e Salvador”.
Dois anos depois da sua chegada a Los Angeles para estudar etnologia da dança na UCLA, Linda passou por um momento de transformação na sua vida quando estudava dança da América Latina com Susan Cashion. Na mesma época ela assistiu ao show ‘Bahia Magia’ apresentado por Renni Flores e Rita da Silva em Irvine na Califórnia. No mesmo ano Linda viajou para Salvador, Bahia e se encantou com o calor humano que encontrou na casa da Renni e Rita
De lá prá cá, Linda Kay Yudin aprendeu muito com seus amigos e professores brasileiros como o Mestre King, Augusto Omolu, Rosângela Silvestre, Ialorixá Mãe Alice, Joselita Moreira, Cruz da Silva, Luiz Badaró, etc. (os nomes são muitos e esse artigo é curto).
A Viver Brasil
Além de ser co-diretora artística do Viver Brasil, Linda também é membro docente da faculdade de dança do Santa Monica College, onde ela dá aula de dança afro-brasileira. Ela ficou muito orgulhosa quando Viver Brasil ganhou o prêmio Lester Horton 2002 como “best achievement” para uma performance de companhia na categoria de dança não ocidental. A companhia Viver Brasil tem o apoio do Alliance for California Traditional Arts, da Durfee Foundation e da Los Angeles County Arts Comission. Entre 1993 e 1999 Linda foi co-diretora da Escola de Samba Cheremoya (em parceria com Lee Cobin). O grupo era formado por jovens dançarinos e músicos que faziam parte de um programa oferecido pela escola Cheremoya em Hollywood. Linda tem muito orgulho do trabalho desenvolvido na Cheremoya.
Os orixás de Linda são Oxum (entidade feminina dos rios/amarelo) e Oxossi (caçador/verde e azul), o que explica a sua determinação em correr atrás do que quer, sua fé na capacidade de fazer as coisas acontecerem e da sua capacidade de liderança, além da adoração que tem por coisas bonitas.Através do candomblé, Linda compreendeu que a sua religião nativa (Judaísmo) também está fortemente ligada à natureza. Hoje ela entende que pode se sentir transformada através de rezas e canções da tradição judaica tanto quanto ela se sente quando assiste os devotos manifestarem seus orixás no Candomblé.
Apesar de ser ‘filha adotiva’ do Brasil, Linda acha que ainda tem muitos desafios pela frente. Desafios na comunicação com os amigos, com o namorado brasileiro, na área de pesquisa e área dos negócios. “A sensibilidade brasileira e a norte americana são dois mundos completamente diferentes. Temos que aprender outro sistema de valores e outra maneira de olhar a vida para poder entender os brasileiros. Aprendi a respirar fundo e a ouvir com cuidado pra entender melhor, porque mesmo com todo o amor que tenho pelo povo e pela cultura do Brasil, ainda sou uma estrangeira”.
A paciência também é necessária quando Linda leva seus grupos de estudantes de dança e música para o Brasil. Depois de trabalhar durante três anos no Caribbean Music and Dance Program, Linda resolveu se aventurar e oferecer turnês educacionais junto com o Viver Brasil. O VBDMP oferece duas viagens por ano para Salvador, Bahia. Uma em julho, chamada “Woman To Woman”, em colaboração com o “The Almas Women’s Group” de Nova Iorque. A outra, em agosto, é chamada “Bahia Folklorica, Roots of Brazilian Dance and Music”. Essa viagem de duas semanas é perfeita para as pessoas que querem aprofundar o seu conhecimento através da dança e da música.
“Um dos meus desejos é que as pessoas respeitem outra cultura sem comparar com as delas mesmas.”Apesar de ser ‘filha adotiva’ do Brasil, Linda acha que ainda tem muitos desafios pela frente. Desafios na comunicação com os amigos, com o namorado brasileiro, na área de pesquisa e área dos negócios. “A sensibilidade brasileira e a norte americana são dois mundos completamente diferentes. Temos que aprender outro sistema de valores e outra maneira de olhar a vida para poder entender os brasileiros. Aprendi a respirar fundo e a ouvir com cuidado pra entender melhor, porque mesmo com todo o amor que tenho pelo povo e pela cultura do Brasil, ainda sou uma estrangeira”.
Como etnóloga de dança e instrutora, Linda visitou as faculdades Florida A&M University, University of North Carolina – Charlotte, University of Cape Town – África do Sul, Stanford University, Riverside Moorpark College e UCLA. Essa moça pequenina e forte como um touro (nasceu no dia 3 de maio) recebe como artista independente o apoio financeiro do departamento cultural da cidade de Los Angeles e faz parte da diretoria do centro de pesquisa de dança da mesma cidade.
Se só tivesse uma opção, Linda levaria um CD do Gilberto Gil para uma ilha deserta. Pra comer levaria um cozido. Pra ler levaria o livro “Mama Day” de Gloria Naylor. Pra alimentar o seu espírito infantil carregaria uma boneca de um orixá. E no seu coração, o amor e o respeito que Luiz Badaró tem por ela.
* Katia Moraes é cantora, compositora e artista carioca. Ela é colaboradora de longa data da revista Soul Brasil e vive em Los Angeles desde 1990. Para saber mais sobre ela, visite: www.katiamoraes.com
Sem palavras muito lindo e forte esse pequeno artigo cheio de poder e luz.
Apoio a respeito a todas as culturas é muito lindo e que todos precisam entender,amar e respeitar.