“Esta pequena ilha tem muitas atrações: suas frutas não têm rivais; sua paisagem é selvagem e pitoresca; seus habitantes são amáveis e calmos. O clima, embora cálido, é influenciado por uma brisa marinha que faz com que o calor nunca seja opressivo. Os pássaros desta ilha são fora do comum pela doçura e brilho de sua música. A fertilidade do solo é vista na rica vegetação que oscila numa massa verdejante sobre vales estreitos e escarpados. Parece que o Éden saiu do leste no formato de uma ilha”.
Esta descrição encantadora de Santa Catarina, no Sul do Brasil, foi feita por um norte-americano no meio do século 19. Ele e milhares de conterrâneos passaram pelo estado brasileiro rumo a Califórnia em busca de ouro. E é esta a história que conta o livro “A Caminho do Ouro – norte-americanos em Santa Catarina” dos autores Jeff Franco e Marli Cristina Scomazzon, baseada em dezenas de manuscritos dos viajantes daquela época. Uma história ainda inédita na História de Santa Catarina.
Todos que passaram pela bela Santa Catarina ficaram encantados com tudo: com a comida (sobretudo o café e frutas exóticas), com a beleza da paisagem, com a hospitalidade dos nativos e houve até aqueles que, apaixonados por alguma mocinha na época, desistiram da busca ao ouro e ficaram pelo Brasil definitivamente. O contato com os catarinenses foi idílico na maioria dos casos, mas também aconteceram conflitos e até mortos e a polícia local teve muito trabalho, inclusive para repatriar viajantes que desistiam da jornada. É que viajar em pequenos barcos, por tantos quilômetros não era fácil. As queixas dos navegantes eram muitas e a falta de costume com o mar um grande empecilho.
Todos estes norte-americanos viviam na costa leste dos Estados Unidos, país que acabara de anexar a Califórnia após uma breve guerra com o México. Logo após o fim da guerra, foram descobertas enormes jazidas de ouro na terra recém conquistada. Mas não havia estradas que cruzassem o país e o caminho era difícil e perigoso por causa dos índios, das imensas montanhas e vales cortados por caudalosos rios. Não havia ainda o canal do Panamá e a rota que consistia em contornar a América do Sul era a mais conhecida por todos. Este caminho era usado há muito tempo pelos baleeiros e viajantes dos EUA e Europa que comerciavam com o oriente.
O livro também dedica um capítulo a contar como os catarinenses viveram estes anos de invasão norte-americana. Existiam aqueles que se esforçaram ao máximo em ser bons anfitriões, outros viram no episódio uma boa oportunidade de lucro e ainda teve quem se exasperou com a avalanche de homens ruidosos e ávidos por aventuras. Contrabando incontrolável pelas autoridades, caça a desertores e alforria de escravos foram episódios corriqueiros daquela época.
A atuação do consulado norte-americano em Desterro encerra o livro. Foram mais de 50 anos de atividade, alguns muito agitados e outros mais calmos. Os cônsules, durante a febre do ouro, fizeram o possível para que a invasão fosse mais suave possível, mas nem sempre tiveram êxito. Na correspondência oficial que ficou até nossos dias é possível observar também a influência que alguns deles tiveram na comunidade.
“A Caminho do Ouro” resgata um período da história de Santa Catarina do qual não se tinha notícia e que foi esquecido pela memória popular. Você pode comprar o livro no site da Editora Insular aqui.
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