Por Lindenberg Junior
Tivemos a oportunidade de entrevistar atores brasileiros com formação universitária aqui nos Estados Unidos e falamos sobre diversos assuntos que são dúvidas para quem quer seguir a carreira artística: as oportunidades no palco, o trabalho nos teatros, em musicais, como é ser um ator em Los Angeles ou em Nova York. Conversamos com Giovanni D Silva e Isabella Moore, que nasceram na Califórnia, mas possuem nacionalidade brasileira, e que, por coincidência, estudaram juntos no programa para BFA de Performance Arts com ênfase em Musical Theater, no Syracuse University (NY). Também falamos com Paula Rebelo, que nasceu no Brasil, mas aproveitou a transferência de seus pais para o Texas a trabalho e se inscreveu em seis universidades norte-americanas até chegar a CalArts, de Santa Clarita (CA).
Giovanni, nascido em Los Angeles, inicialmente nos responde porque resolveu se mudar e estudar em Nova York. “Desde o middle school eu fazia Musical Theater e já nessa época sabia que queria estudar e morar em NY. Em L.A, as produções para cinema e séries de TV são tantas e a indústria é tão forte que o teatro fica meio que de lado. Se você quer fazer teatro ou musicais é muito melhor estar em NY, tanto pelo elevado número de teatros e produções quanto pelo próprio ambiente teatral na Big Apple. Por outro lado, embora haja uma variedade de oportunidades em cinema e televisão em NY, L.A é a grande vitrine e atrai atores em busca de fama e glamour de todas as partes dos EUA e do mundo”, revelou o ator.
Isabella nos mostrou a diferença ente os atores e o cenário de L.A e NY e revelou que os atores de Nova York têm um amor mais forte pela arte de atuar. “Não se trata de glamour ou fama, trata-se de ser um ator, simplesmente porque você ama e não quer fazer mais nada. Em Los Angeles, o negócio é muito mais comercial. É mais sobre o potencial de se tornar uma estrela ou ganhar mais dinheiro”. Isabella ainda afirmou que, em NY, diretores de casting procuram contratar atores com boa formação em teatro. “Eles querem pessoas que estudaram artes cênicas por anos. Ao meu ver, mesmo em L.A, para certos programas de TV e alguns filmes, alguns diretores de casting preferem contratar atores de NY simplesmente porque eles tendem a ter mais treinamento”.
Já para Paula Rebelo, que se formou em 2013 pelo Conservatório de Arts da CalArts de Santa Clarita (CA), após a formatura, a expectativa era conseguir um agente e já começar a fazer testes pra filme e TV aqui em L.A, mas as coisas não aconteceram assim. “As portas estavam muito abertas para mim no meio teatral, então investi 100% nisso. Já trabalhei com diversas companhias de L.A e fiz um tour pela China, Russia e Escócia. Mas o meu primeiro trabalho profissional fora da CalArts foi “Prometheus Bound”, no Getty Villa. Foi incrível! A peça foi muito aclamada e abriu muitas oportunidades pra mim. Há dois anos eu ganhei um Ovation Awards (prêmio de teatro de L.A) pelo meu trabalho em “The Temptation of St Antony” e hoje, inclusive, sou uma Ovation Voter, contribuindo para decidir quais peças serão premiadas”. Em 2018, Paula deve voltar para a Escócia com uma peça que está desenvolvendo junto com uma companhia na qual ela já fez muito trabalhos, a Theatre Movement Bazaar.
Sobre a experiência de Giovanni na Syracuse University e o que ele mais achou proveitoso durante sua formação, ele revelou: “Definitivamente o que mais gostei durante o curso foi o meu último semestre em que tive que me mudar para NYC para fazer o ‘Tepper Program’ e concluir o meu BFA em Performance Arts depois de quatro anos. Foi um semestre incrível em que eu tinha aulas no centro de Manhattan e conheci artistas e profissionais dessa indústria. Viver em NY pré e pós-graduação tem sido uma benção”, completou Giovanni.
Gostaríamos de saber um pouco mais sobre a diferença entre o ator de palco e o ator de câmera e Isabella nos respondeu. “Ser um ator de teatro é muito diferente de ser um ator de câmera por muitas razões. Em primeiro, no palco, você só tem uma chance de fazer direito, enquanto na frente da câmera, você tem várias tomadas para obter o ‘tiro’ perfeito. Além disso, atuar no palco envolve o público muito mais do que você pensa. No teatro, confiamos na energia e reações do público para alimentar nossas performances. Eles estão na jornada conosco e nos alimentamos ativamente da energia deles”.
Paula afirmou que o importante é o ator saber visualizar o que ele quer e focar naquilo. “Todo mundo em L.A quer ser ator, e acho que chegar a essa cidade apenas com o único objetivo de ser ator é muito genérico, você precisa de um foco. Por exemplo, eu sei que o meu forte é physical theatre. Então mergulhei de cabeça nisso quando me formei e as coisas foram acontecendo. Foque em um objetivo que as outras coisas acontecem naturalmente”.
Giovanni complementou que é de suma importância ser positivo e acreditar em seu potencial. “Eu sei que isso pode parecer clichê, mas o fato é que muitos jovens atores se mudam para Nova York e não demora muito e então eles fazem as malas e voltam para suas cidades de origem. Tanto em NY como em L.A, a competição é grande, e só irão vencer os determinados e os que, além de talento, também fizerem um mínimo de esforço para aprender a se vender como um ator, ou seja, dedique parte de seu tempo para aprender networking e marketing”.
Conseguimos captar muito bem o que que Giovanni afirmou, afinal, como meu filho, sempre escutou que ideias e conceitos de marketing são de fundamental importância em diversos campos. Paula reafirmou o que Giovanni disse. “Após me formar eu já estava bem envolvida com o teatro de L.A, em grande parte graças a todos os contatos que fiz, incluindo professores e diretores que conheci na CalArts. Terminei conseguindo um agente de comercial e um manager por meio desses contatos”.
No que diz respeito a um agente e manager, mencionamos algo bastante válido que Isabella revelou. “Participamos de várias audições e você nunca sabe quem está do outro lado assistindo, mas meu conselho é você nunca levar nada pro lado pessoal. Se você não conseguir um papel, isso não significa que você não é talentoso. Pode ser que você não tenha sido escolhido por algo tão simples como o fato de você ser muito alto ou muito baixo, e aquelas pessoas por detrás da mesa até gostaram de você, na verdade”.
Giovanni relevou: “Eu nasci em L.A e amo essa cidade, mas desde o primeiro ano no Syracuse University (SY), eu sabia que, depois de me formar, iria ficar em NY. Acho que o mais importante é você saber o o que quer e o que ama e, no meu caso, pelo menos por agora, é participar e trabalhar em produções de teatro e musicais”. As coisas estão fluindo para Giovanni. No fim do ano passado (2016), ele teve sua primeira experiência como profissional. Uma companhia de Opera de NY o contratou para um “France Tour” – dois meses entre Bordeaux e Toulouse no sul da Franca. Entre Junho e Agosto (2017) ele estará fazendo parte de um musical em Upstate NY.
Finalizamos esse artigo enfatizando algo interessante que Paula afirmou no que diz respeito ao ator ampliar seus horizontes e fazer sua própria trajetória. “Descubra algo que você tem a oferecer que nenhuma outra pessoa tem, descubra aquilo que te faz ser diferente. Saiba o que está acontecendo no meio artístico – assista aos seriados nos quais você consegue realisticamente se ver no elenco, saiba quais são os diretores com os quais você quer trabalhar, saiba quais são os teatros que estão criando projetos dos quais você quer fazer parte. Conforme você for descobrindo e respondendo algumas dessas perguntas, a sua trajetória vai ficando cada vez mais clara”.
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