Por Alfredo Barreto
De acordo com dados do Banco Mundial de 2015, o Brasil possui a segunda maior área de florestas do mundo com base na avaliação de 206 países. Também é o segundo com maior percentual do território coberto por florestas entre os 10 países com maior área florestada.
Com 4.935.380 km2, as florestas brasileiras (naturais e plantadas) cobrem mais da metade do território nacional e contam com área superior aos 28 Estados-Membro da União Europeia, de 4.324.782 km2. O desmatamento no maior estado brasileiro, o Amazonas, conforme o levantamento PRODES do INPE,http://www.obt.inpe.br/prodes/, atingiu o total de 4% em 2014, ou seja, 96% da área do estado ainda são cobertos por floresta.
Apesar disso, é comum afirmar-se que o desmatamento é um dos maiores problemas ambientais do país. Ninguém bem informado e bem intencionado defende o aumento do desmatamento. Devemos zerar o desmatamento no menor prazo possível no Brasil. Mas não se pode ser tendencioso ou inocente e continuar a multiplicar a falsa ideia de que somos os campeões do desmatamento, nem que esse é um dos mais importantes problemas nacionais.
Em se tratando de preservação ambiental, quantitativamente, muito mais importante e prejudicial é a falta de coleta e de um adequado tratamento de esgoto. Segundo dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS 2014), http://www.snis.gov.br/, apenas 40% dos esgotos do país são tratados e 48,6% da população têm acesso à coleta de esgoto. Ou seja, menos da metade nos dois casos.
Além das consequências sanitárias e sociais diretas às populações não atendidas, esses problemas afetam o ambiente, ao poluir cursos d’água e reduzir a qualidade de vida pela interdição de áreas ao lazer, pesca etc. Da mesma forma, a percentagem de municípios que dão destino correto ao lixo urbano é pífia.
Segundo levantamento do Ministério do Meio Ambiente (MMA) – feito no final de 2013, dos 5.564 municípios então existentes, apenas 2,2 mil (40%) dava ao lixo a disposição final ambientalmente adequada. Este é outro problema ambiental brasileiro que afeta diretamente milhões de pessoas em milhares de municípios.
Então, se no Brasil o desmatamento é menor que em outros países – a área de florestas é enorme – e, por outro lado, somos ineficientes ao tratar resíduos sólidos e líquidos das nossas cidades, como pode haver tanto barulho por causa do desmatamento e quase nenhum pela incorreta destinação do esgoto e do lixo urbano? Qual é a lógica por trás dessa situação? Seria a força dos urbanos concentrados contra a fraqueza dos rurais dispersos? Ou quem está mais interessado em impedir nosso desenvolvimento do que em proteger nosso ambiente fomenta uma eterna pressão apenas sobre as questões ambientais relacionadas ao papel do país como grande competidor na produção de alimentos, fibras, biocombustíveis e produtos florestais no mundo?
O desmatamento zero, praticado e pregado por alguns países, significa que, como as árvores crescem continuamente, só se pode cortar por ano o volume acumulado anualmente pelas florestas. Ou seja, se a área florestada para fins comerciais em um país cresce 5% em volume por ano, ele pode cortar 5% da sua floresta por ano, desde que replante a mesma área. E isso significa que todo ano ele terá a mesma quantidade, em área e volume, de florestas no país. É isso o que vem sendo feito em vários países europeus, principalmente.
É importante notar que nesse ponto o Brasil, como país tropical, leva vantagem sobre os países de clima boreal. No nosso país é possível colher a madeira do eucalipto em sete anos, ou até antes dependendo do uso (papel e celulose), enquanto que no caso do abeto (Picea spp), uma das árvores mais comuns e utilizadas nos países de clima boreal, o tempo médio para o corte é de 50 anos, mais de sete vezes o tempo necessário aqui.
Comparando apenas florestas dessas duas espécies, abeto na Noruega e eucalipto no Brasil, cujo corte seja feito aos 50 anos lá e aos sete aqui, as florestas norueguesas só podem ter 2% da sua área colhida por ano (100% ÷ 50 anos), enquanto que as florestas plantadas brasileiras podem ter mais de 14% da sua área colhida a cada ano (100% ÷ 7 anos). Em ambos os casos estaríamos presenciando o desmatamento zero.
Além disso, na Europa grande parte das florestas não é nativa, mas sim, plantada para fins comercias. Na Noruega, 37% do território são cobertos por florestas, sendo 23% florestas produtivas e 14% de outros tipos. No Brasil, onde quase todas as florestas são nativas, a área de florestas produtivas em 2015, segundo o IBÁ,http://iba.org/images/shared/iba_2015.pdf, era de 77,4 mil km2, ou 0,9% da área total do país.
Por fim, a área sem florestas no Brasil, que é de 41% do território, segundo o Banco Mundial, é um pouco maior que a área total dos estabelecimentos agropecuários brasileiros conforme o último Censo Agropecuário do IBGE, de 2006 (3,34 milhões de km2).
Essas terras disponíveis para atividades produtivas podem garantir, sem aumento da área desmatada, o crescimento da produção agrossilvipastoril brasileira, com a ajuda da tecnologia, ainda por um bom tempo. Além de termos muita área de florestas, poderemos manter a maior parte delas intocada, ao mesmo tempo em que aumentamos nossa produção. À luz desses dados conclui-se que o insistente discurso sobre o desmatamento brasileiro é falacioso e ofusca outros grandes e mais urgentes problemas ambientais do país.
*Alfredo José Barreto Luiz é Engenheiro Agrônomo pela UFLa, Mestre em Estatística pela UnB, Doutor e Pós-Doutor em Sensoriamento Remoto pelo INPE.
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