pexels mart production 8078441Solteiros, jovens, idosos, famílias inteiras, crianças, pessoas com problemas mentais: são diversos os grupos de pessoas que vivem em situação de rua nos Estados Unidos atualmente. A Califórnia, apesar de ser o estado mais rico do país, também é o que mais concentra moradores de rua. E Los Angeles é a cidade com mais pessoas sem-teto (homeless) no país.

Em janeiro de 2018, 552.830 pessoas nos EUA eram consideradas sem-teto pelo Department of Housing and Urban Development (HUD). Destas, cerca de 195.000 (35%) viviam nas ruas. Pouco mais de 358.000 (65%) possuíam algum abrigo em residências temporárias. Neste ano, os sem-teto representavam, então, 0,2% da população no país, ou seja, 17 pessoas por 100.000 habitantes. Já em janeiro de 2020, dois meses antes da pandemia, 580.466 pessoas entraram nessa categoria, segundo a edição de 2021 do State of Homeless.

Los Angeles é a cidade americana com mais pessoas em situação de rua. Atualmente, existem pelo menos 63.706 pessoas desabrigadas no condado, de acordo com a mais recente contagem da LAHSALos Angeles Homeless Services Authority (a principal agência do Los Angeles Continuum of Care que coordena habitação e serviços para famílias e indivíduos sem-teto no condado) – em 2020 – um aumento de 13% em relação a 2019. Na cidade de Los Angeles, a instituição afirma que há 41.290 pessoas em situação de rua.

Mas os números podem ser ainda mais altos. No início da pandemia, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças recomendaram que as pessoas que vivem nas ruas buscassem um abrigo ao invés de ficar se deslocando, isso porque recolher, buscar abrigo e transferir para diversos locais milhares de pessoas aumentaria o risco de transmissão de covid-19 naquele momento. Além disso, os CDCs aconselharam os abrigos do país a reduzir sua capacidade para 50% para que os moradores pudessem praticar o distanciamento social efetivo e evitar mais mortos.

O que leva uma pessoa se tornar sem-teto?

pexels mart production 8078532Diversas razões levam pessoas à morar nas ruas: pobreza, falta de moradia acessível, discriminação no emprego, abuso de substâncias química ou problemas de saúde mental, jovens LGBTQ rejeitadas pela família que sofrem LGBTFobia, violência doméstica, falta de laços familiares e crianças que envelhecem fora de um orfanato, por exemplo.

Para as pessoas que vivem em abrigos (sem-teto, porém congregados), normalmente há duas opções: congregar (imagine muitas camas em um quarto compartilhado) ou não congregar (pessoas em quartos privativos). A LAHSA afirma que a maioria das pessoas desabrigadas prefere opções de moradia não congregadas.

A luta pela nomenclatura ideal

Muito se fala, atualmente, a respeito dos termos usados para nomear pessoas em situação de rua. Para responsáveis por ONGs e diversas instituições que cuidam temporariamente ou fornecem assistência básica para essas pessoas, é preferível que não se use o termo “sem-teto”. Isso porque, ao chamar alguém de sem-teto, você o reduz, o define por uma característica: o fato de ser um sem-teto. Mas essas pessoas são muito mais que isso – são filhos, filhas, mães, pais, empresários, estudantes, trabalhadores em tempo integral – e a lista é longa.

De acordo com LAHSA, o aumento das pessoas em situação de rua no condado de LA é resultado da estagnação da renda, aumento dos preços de casas, falta de investimento em serviços de saúde mental, falta de proteção aos inquilinos e uso discriminatório da terra. Outro fator importante é o encarceramento em massa: 60% da população sem-teto de Los Angeles já passaram pelo sistema de justiça criminal. Muitos não são aceitos em empregos quando saem da prisão, sejam formais ou informais, e, assim, não conseguem ter uma renda básica para sobreviver e vão para as ruas.

Saúde mental como um dos fatores preponderantes que levam pessoas a viver nas ruas

pexels timur weber 9532050Ainda de acordo com o relatório da LAHSA de 2019, 25% das pessoas em situação de rua em LA possuem uma doença mental. Mas depois de examinar o relatório a fundo, uma análise do L.A. Times descobriu que o número é maior: 51% das pessoas que vivem nas ruas no condado possuem algum distúrbio mental. A discrepância pode ser devido a uma diferença na interpretação dos dados.

De acordo com um relatório de 2021 de Luskin Center for History and Policy da UCLA, o choque de dados pode ser atribuído à desinstitucionalização da assistência à saúde mental que começou, em parte, após protestos sobre as condições desumanas dos hospitais psiquiátricos estaduais – que antes eram vistos como o modelo de saúde mental pública até meados do século XX.

O relatório da UCLA afirma, ainda, que devido à falta de financiamento até os anos 90, o sistema de saúde mental não fornecia cuidados posteriores ou serviços de acompanhamento para pacientes liberados das instituições ​​ou presos com problemas de saúde mental, o que significava que mais pessoas iam viver em situação de rua após sair de instituições de saúde e penitenciárias.

O fato é que, com o aumento dos preços dos aluguéis, o desemprego – que piorou após o início da pandemia -, o congelamento do valor dos salários mínimos e uma redução da oferta pública de casas e de projetos subsidiados, tornou-se muito difícil encontrar moradia a um preço que se possa pagar nos EUA, em especial na Califórnia, e em Los Angeles.beggars lying side street with dirty clothes 1150 22921

A pandemia trouxe com ela desemprego e mais miséria o que acarretou uma onda de despejos e mais pessoas passaram a viver nas ruas. Estes enormes problemas são o gatilho para uma grande crise social e de saúde mental que afeta os EUA. Haverá solução em definitivo para o problema? Bem, as alternativas apresentadas pelas autoridades de Los Angeles, não são, até agora, uma resposta definitiva à crise, na pandemia e pós-pandemia.

Não basta tirar as pessoas das ruas, é preciso ir a fundo à causa que as levaram a viver nas ruas. Pesquisadores e sociólogos são unânimes em afirmar que programas de larga escala que combatam a desigualdade e a pobreza nos Estados Unidos devem ser o ponto central da questão.

Se você quer ter uma noção mais aprofundada do tema, convidamos a assistir ao documentário “Onde eu Moro”. Dirigido pelo carioca Pedro Kos e pelo americano Jon Shenk, o documentário expõe a realidade de moradores de rua nos Estados Unidos e faz com que o expectador reflita a respeito da urgência da discussão sobre a crise humanitária que o país enfrenta.

Apesar de ter concorrido ao Oscar 2022, o documentário perdeu a disputa na categoria de Melhor de Documentário em Curta-metragem, para “The Queen of Basketball’’. Ainda assim, é uma obra que merece ser vista e serve como ótima reflexão. O documentário está disponível na Netflix.

Facebook Comments