Na imaginação popular, Death Valley (Vale da Morte), no sul da Califórnia, é o lugar mais quente do planeta. Às 15h41 do último domingo, 16 de agosto, ele fez jus a essa reputação quando a temperatura no Furnace Creek atingiu 54,4 graus Celsius, de acordo com o centro de previsão do tempo da National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA).
Se essa informação for verificada por cientistas climáticos, um processo que pode levar meses, seria a temperatura mais alta já registrada com segurança na Terra. O Vale da Morte conhece bem o calor. Localizado a 85 metros abaixo do nível do mar no deserto de Mojave, no sudeste da Califórnia, perto da fronteira com Nevada, é o local mais baixo, seco e quente dos Estados Unidos. É pouco povoado, com apenas 576 residentes, de acordo com o censo mais recente.
Brandi Stewart, porta-voz do Parque Nacional de Death Valley, disse que o vale é muito quente por causa da configuração de sua bacia abaixo do nível do mar e das montanhas ao redor. O ar superaquecido fica preso em um bolso e apenas circula. “É como entrar em um forno de convecção todos os dias em julho e agosto”, disse ela.
Então, como é a sensação de quase 55 graus, que o ela experimentou no domingo? “Não parece tão diferente de 51 graus”, disse Brandi. “A sensação de calor no meu rosto quase rouba o fôlego”. Ela acrescentou que “as pessoas dizem: ‘Oh, mas é um calor seco!’ Dá vontade de revirar os olhos”, disse ela. “A umidade também tem suas desvantagens, mas o calor seco tampouco é divertido.” O calor aumenta durante a tarde, geralmente atingindo o pico a partir das 16h às 17h30.
Temperaturas mais altas que as registradas no domingo (16) foram relatadas, mas muitos cientistas questionaram a confiabilidade dessas leituras. Por exemplo, o Death Valley reivindica o recorde para a temperatura mais quente já registrada em 1913, a 56 graus. Mas uma análise de 2016 do especialista em climas extremos Christopher Burt descobriu que a leitura não se alinhava com outras observações feitas na região, concluindo que “não era possível do ponto de vista meteorológico”.
Deixando de lado aquela afirmação de 107 anos atrás e algumas outras leituras não verificadas ao longo dos anos, o recorde anterior de temperatura mais alta também foi observado no Death Valley, em 30 de junho de 2013, a 53 graus. A mesma temperatura também foi registrada no Kuwait e no Paquistão vários anos depois.
Também é importante entender: pode haver lugares mais quentes do que Death Valley, como partes do Saara, mas eles são muito remotos para um monitoramento confiável, disse Daniel Swain, cientista climático da Universidade da Califórnia, Los Angeles e do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica.
Medir temperaturas de forma confiável é complicado. Os termômetros devem ser protegidos do sol e elevados acima do solo, de acordo com as normas estabelecidas pela Organização Meteorológica Mundial. O instrumento do Death Valley, chamado termistor, era blindado e envia leituras para um satélite a cada hora. As temperaturas recorde são validadas pelo Comitê de Extremos do Clima, uma colaboração de especialistas em clima da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional e outras organizações, de acordo com Daniel Berc, meteorologista da NOAA.
À medida que o planeta continua a aquecer, uma temperatura de 54 graus em um lugar remoto é um número que podemos ver eventualmente em lugares onde pessoas realmente habitam. As pessoas percebem mudanças extremas porque elas afetam tudo, da nossa saúde até a produtividade dos alimentos que comemos.
Facebook Comments