1584906764 91955Desde a última semana de março, o Ministério da Saúde liberou 3,4 milhões de unidades da cloroquina no Brasil, droga usada no tratamento contra a malária, lúpus e artrite reumatóide, para pacientes com coronavírus que estão em estado grave.

A cloroquina e sua variante hidroxicloroquina, apesar de já serem usadas para outras doenças, estão sendo experimentadas no tratamento da covid-19, isto porque o medicamento apresentou resultados positivos em estudos preliminares feitos por pesquisadores da China e da França, quando usado junto com um antibiótico para combater infecção pulmonar. No entanto, ainda faltam evidências científicas e testes clínicos que comprovem a eficácia do remédio contra a doença causada pelo novo coronavírus.

Para Denizar Vianna, secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, o Brasil tem uma experiência de décadas no tratamento da malária em pacientes na região Norte, o que aumenta as chances de sucesso. Segundo pesquisas internacionais, a cloroquina tem potencial para diminuir a contagem viral de pacientes infectados.

Em comunicado oficial, o secretário informou que a equipe técnica do governo elaborou um protocolo, que prevê cinco dias de tratamento, sempre dentro do hospital e monitorado por um médico, por conta de seus efeitos colaterais muitas vezes fortes, como, por exemplo, taquicardia.

As unidades do remédio, segundo informou o ministro da Saúde, Luiz Mandetta, só serão distribuídas aos hospitais, uma vez que em pacientes graves os benefícios podem superar os riscos em casos graves. “Esse medicamento não é indicado para prevenção”, afirmou Mandetta.

Estudos com a cloroquina

No Brasil, há dois estudos grandes com a cloroquina sendo tocados. Um deles é coordenado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e reúne instituições de várias regiões do país. O outro é realizado em parceria pelos hospitais paulistanos Albert Einstein, Sírio-Libanês e o Hospital do Coração (HCor).

fiocruz pesquisa 32833Resultados preliminares do estudo feito pela Fiocruz e pela Fundação Medicina Tropical com a cloroquina, divulgados na terça-feira (07), revelaram que a taxa de mortes de pacientes com covid-19 que receberam o medicamento é semelhante a dos que não o tomaram.

Os testes também mostraram que a dose maior de cloroquina administrada inicialmente nos pacientes provocou reações indesejadas, como arritmia e outras complicações. Eles receberão agora apenas a dose mais baixa prevista. O infectologista Marcos Lacerda, da Fiocruz, prevê que 440 pacientes sejam testados, o que deve levar de dois a três meses para obter conclusões científicas.

Na sexta-feira (10/04), duas as mais importantes publicações de pesquisa em medicina do mundo alertaram sobre o uso de cloroquina e hidroxicloroquina contra a Covid 19. A respeitada British Medical Journal (BMJ) adverte em editorial deste fim de semana para o risco de usar os medicamentos indiscriminadamente  no tratamento da Covid-19. “O uso dessas drogas é prematuro e potencialmente prejudicial”, afirma o editorial.

Já a revista Lancet afirma que autoridades de países como EUA e França têm autorizado o uso dessas drogas sem garantia de segurança. Destaca ainda que a Organização Mundial de Saúde (OMS) voltou a reiterar que “não há informação suficiente para mostrar a eficácia dessas drogas no tratamento de pacientes com Covid-19, ou em prevenir que alguém contraia o coronavírus”.

A Agência Europeia de Medicamentos, o órgão regulador de drogas da União Europeia, diz que não vai autorizar qualquer uso desses remédios contra o coronavírus sem que existam provas.

A preocupação dos especialistas fora do Brasil é a mesma de médicos brasileiros que enfrentam a Covid-19. A pneumologista Margareth Dalcolmo, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), está alarmada com o desespero de pacientes e famílias que ouvem falar sobre cloroquina e hidroxicloroquina.

‘Não há prova de que funcionam. As pessoas que melhoram são as que melhorariam de qualquer forma. E o que me preocupa muitíssimo é esse uso indiscriminado de remédios com efeitos colaterais em pessoas com fatores de risco para elas, como os hipertensos”, afirma a doutora Margareth, que trata pacientes com Covid-19 e não administra essas drogas por considerá-las inseguras e sem garantia de eficácia.

 

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