Por Luciana Alencar

DRAV mGWAAA XDZ e1699918676904Desde o final dos anos 1960 e início dos anos 1970, o Funk, estilo musical criado por negros norte-americanos, se popularizou no Brasil. Os primeiros a se identificarem com sua melodia foram os jovens residentes em favelas. Primeiramente seu público-alvo foram os jovens que viviam nas favelas e que queriam se expressar de uma forma alternativa. Depois este gênero musical passou a ser uma “febre nacional” apreciado por todas as classes sociais, e mais recentemente passou a ser “exportado” com o nosso próprio tempero de criatividade e sensualidade para todo o mundo.

Os primeiros “Bailes Funk” do Rio de Janeiro eram exclusivamente de som mecânico e eram promovidos na Zona Norte por Dom Filo, em 1968, no chamado Clube Renascença e na Zona Sul pelo lendário DJ Big Boy, no Canecão, onde se tocava Rock & Soul. O Funk foi introduzido no Rio de Janeiro como um modo de conscientização racial, incentivando os afrodescendentes a mostrarem a sua cara em um lugar de dificuldades, dominado pelo tráfico, onde seus habitantes padeciam sem emprego, educação, saúde e segurança.

Os bailes do subúrbio carioca especializaram-se em ritmos negros (Funk and Soul) e tornaram-se bailes black, enquanto os da Zona Sul continuavam tocando Rock. Neste caldo de cultura foi que nasceu o Black Rio, um dos primeiros movimentos de afirmação cultural da juventude negra brasileira. Nessa onda surgiu a importante Banda Black Rio (cujo swing Funk foi “descoberto” por Gilberto Gil em seu disco Refavela, de 1974), além de compositores importantes do Soul-Funk brasileiro como Cassiano, Hyldon e Gerson King Combo. Os Bailes Black também foram o ponto de partida de músicos hoje considerados lendas da música popular brasileira, como é o caso de Tim Maia e Jorge Bem Jor.

A primeira grande “Equipe do Funk” foi sem dúvida a Furacão 2000, criada em 1973 e até hoje em atividade. Do

167 Rio Baile Funk

Foto de Vincent Rosenblatt para o projeto “Olhares do Morro”

mesmo caldo cultural, surgiram, paralelamente, outros grupos como a Pipoo’s, a Espião Shock de Monstro e a New Funk. Todos esses grupos surgiram entre a população jovem das favelas, morros e subúrbios cariocas. Os Bailes Funk se tornaram conhecidos justamente por terem esses grupos alternativos locais mostrando sua criatividade na batida, mensagem social em suas letras e também a sensualidade de seus movimentos. Assim milhares de jovens encontravam sua única tentativa de diversão e de expressão cultural.

A resistência do Funk brasileiro e a sua forca vem devido à sua popularidade no Brasil e no mundo. No Brasil, isto é percebido pela quantidade de bailes promovidos dentro – e nos dias atuais também fora – dos subúrbios e das favelas. Foi aberto mais um espaço para a mistura social e a cada fim de semana centenas e milhares de jovens de diferentes classes sociais se deliciam com a batida, dança única e sensual do ritmo que se originou nas favelas.

À parte, ficou mais visível os projetos sociais desenvolvidos dentro das favelas através de Organizações Não-Governamentais (ONG’s) como o caso da ONG Agência Olhares – que desenvolve o projeto Olhares do Morro pelo qual mostra a importância do Funk dentro da favela, ou por gente séria como o trabalho do fotógrafo Vicent Roosebalt que mergulha desde 2005 no universo “Funkeiro”.

Na esfera internacional, o Funk brasileiro começou a ser lançado na década de 1990, quando foi exportado para Europa por meios de comerciais de TV e “Bailes de Pancadão”. Atualmente, nas casas noturnas de Londres é um ritmo frequentemente tocado. A grande representante internacional desse estilo musical se chama Maya Arulpragasam, popularmente conhecida por M.I.A, que faz a mistura de Funk Brasileiro com Reggae em sua música.

baile funkMesmo com toda essa popularidade, como qualquer manifestação cultural criada pela juventude de baixa renda que consegue quebrar as barreiras socio-geográficas e passa a aparecer em destaque em meios de comunicação, as primeiras reações geradas são a rejeição, o confronto e a desconfiança. O Funk seria condenável por, entre outros motivos, fazer parte da chamada cultura popular.

Entretanto, o Baile Funk da favela representa o exercício de liberdade de expressão absoluta de uma população economicamente oprimida. Exercício este que se mostra como um produto de resistência à dominação da indústria cultural, uma contraposição à forma padrão de pensar. Enquanto produto de resistência à dominação da indústria musical, essa passa a ser uma contraposição ao que todos pensavam.

A globalização, de fato, influencia, mas não consegue dominar a cultura de um povo. O fato é que hoje, no Rio, São Paulo, Nova York, Los Angeles ou em outras tantas cidades ao redor do mundo podemos ver o lado positivo da música que ultrapassa fronteiras e servem como uma forma de reintegração social, como uma opção do bem pelo mal. Independente de política, a música tende a ser do bem e da alegria.

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