Agentes da Fronteira dos EUA interrogaram um imigrante indocumentado de 32 anos em uma estação de ônibus no Sul da Califórnia, em fevereiro, e, desde então, ele está em um centro de detenção de ICE. Segundo a organização que luta pelos direitos dos imigrantes, ACLU, esses tipos de detenções são “ilegais” e tem ocorrido com maior frequência nos últimos meses.
Em uma carta criticando a colaboração entre a Patrulha da Fronteira (USBP) e a empresa de ônibus Greyhound, a União Americana das Liberdades Civis (ACLU) cita o caso de um hispânico que acabou em custódia federal na Califórnia depois de oficiais da Patrulha da Fronteira questionarem seu status de imigração porque seus “sapatos pareciam suspeitos”.
O incidente ocorreu em fevereiro passado na estação Greyhound, na cidade de Indio, a cerca de 160 quilômetros da fronteira entre a Califórnia e Mexicali. O indocumentado de 32 anos estava esperando o ônibus que o levaria a Los Angeles, onde ele mora, quando agentes da Patrulha da Fronteira o detiveram alegando que ele estava usando sapatos que pareciam com alguém que acabara de cruzar a fronteira ilegalmente. “Para mim parece um argumento inventado para deter a alguém apenas por ser ou parecer ser latino”, dijo Eva Bitran, advogado de ACLU, ao diario Desert Sun.
O imigrante, cuja identidade não foi revelada, nunca embarcou no ônibus. De fato, de acordo com a ACLU, ele perdeu o ônibus enquanto era interrogado pelos oficiais. O homem está agora no centro de detenção de imigrantes do ICE em Adelanto, no condado de San Bernardino (condado vizinho a Los Angeles). Seu advogado está lutando para libertá-lo depois de pagar fiança. Nem a Patrulha da Fronteira nem a empresa de ônibus Greyhound comentaram especificamente sobre este caso.
Lanesha Gipson, porta-voz da Greyhound, disse em um comunicado à imprensa que “a empresa tem a obrigação legal de cooperar com as agências policiais toda vez que eles pedem para entrar em suas estações e embarcar em seus ônibus”. Disse ainda que isso ocorre apesar do fato de que a empresa de ônibus tem perdido clientes por causa das operações da Patrulha de Fronteira.
Segundo a ACLU, a detenção deste indocumentado na Califórnia não é um caso isolado. A organização documentou interrogatórios e revisões ilegais da Patrulha de Fronteira em diferentes estados. “Os ataques sem ordem judicial, e que tiveram um rápido aumento no ano passado, não são apenas um flagrante desrespeito pelos direitos constitucionais dos passageiros, mas também são claramente determinados por perfis raciais”, afirmou a organização ACLU.
Abaixo segue alguns exemplos mencionados na carta da ACLU endereçada à Greyhound:
* Na Califórnia, um agente do USBP exigiu que um cidadão dos EUA que estava filmando um ataque mostrasse a ele duas formas de identificação para provar que ele estava legalmente no país.
* No estado de Vermont, um ônibus que chegou ao amanhecer na área de Hartford foi abordado por agentes de fronteira. Uma das passageiras, Danielle Bonadona, originalmente do Líbano, disse ao Valley News que “eles não nos deixaram descer” e afirmou que os oficiais “só checavam as identificações de pessoas com sotaque ou que não eram brancas”.
*Em Washington, um pai e seu filho foram presos, embora o filho fosse beneficiário do programa DACA e o pai não ter dado informações sobre seu status de imigrante. Sem uma ordem judicial, a ACLU cita, um agente de fronteira perguntando-lhe “Você é ilegal?” e “Você traz seus documentos?”
* Em Michigan, agentes da USBP embarcaram em um ônibus para Nova York e detiveram todos os passageiros que não tinham provas de que não estavam em situação irregular.
Gostaríamos de lembrar que a ofensiva do ICE (polícia de imigração dos EUA) na Califórnia contra imigrantes indocumentados sem antecedentes se tornou mais intenso a partir do final de 2017. Entre outubro e dezembro deste ano, a agência federal colocou mais de 2300 imigrantes sem registros criminais sob custódia. Em San Diego (cidade que faz fronteira com México) foram 1622, mais do que em qualquer outro lugar do país, e em Los Angeles 357. Do total de detidos, 16% não tinham recordes criminais.
Para conhecer mais sobre a ACLU e outras organizações que defendem os direitos dos imigrantes leiam um artigo nosso AQUI.
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