Por Tania Haberkorn
Como saber a hora certa de se despedir? Ir ou não ir ao funeral? Quanto tempo ficar? Na volta, como explicar quem era a pessoa que morreu e a sua relação com ela? Eu me lembro que quando minha avó morreu há sete anos, no Brasil, optei por não ir ao funeral por motivos profissionais. Foi uma escolha difícil e que deixou marcas. Fiquei sozinha em meu luto quando fiz esta escolha.
A morte é complicada para quem fica, não para quem vai. Quem fica, fica com as lembranças, com as saudades, com a perda e a dor. Aprendi que quando você está no meio das pessoas que não estão vivendo a mesma perda, acaba se sentindo mais sozinho. Por isso, os rituais são importantes. Não sei se a os rituais judaico-cristãos têm em mente este objetivo. Na religião católica há a missa de sétimo dia; na judaica, o Shivah. A missa é uma oportunidade para as pessoas se reunirem e rezarem pelo morto.
No Shivah, a família recebe a visita dos amigos todas a tardes por uma semana para comer, rezar e recordar a pessoa perdida. Na minha opinião, além de bonitos, estes rituais religiosos são úteis na elaboração do luto.Todos sabemos que a morte faz parte da vida, e que a única certeza que temos é que cedo ou tarde todos vamos. Mas quem quer lembrar desse fato?
A morte na sociedade ocidental é vista como algo trágico e desconcertante. Uma sociedade pouco espiritualizada tem mais dificuldades em entender o que não faz parte do lógico e racional. E a morte vem sempre acompanhada de muitas questões espirituais. Para onde vamos? Desaparecemos por completo ou ficamos vagando como almas penadas? O que fazer com o corpo quando a alma já se foi? Como era nossa relação com a pessoa que se foi? O imigrante tem ainda outras questões a lidar quando perde alguém em seu país de origem.
Não participando do funeral você perde a oportunidade de compartilhar o seu sentimento de perda com pessoas que estão passando pela mesma situação;a menos que você tenha uma boa parte da família vivendo com você no exterior ou uma comunidade de amigos que lhe apoiem E por mais difícil que possa ser, às vezes o funeral é uma parte importante do processo de luto que pode facilitar muito a sua adaptação depois. Não quero colocar essa como uma opção absoluta e como a única forma de elaboração da perda. Cada caso é um caso e cada um sabe o que precisa. Mas minha experiência como terapeuta que trabalha com grupos de crianças e adultos em luto, é que rituais são importantes e nos ajudam a encontrar a nossa própria espiritualidade.
Ram Dass, um sábio guru americano, fala em seu livro, “Still Here”, que quando seu mentor e guru Maharaji morreu, achou que ia ficar triste por muito tempo. Mas,sua reação foi muito melhor que imaginava. Ele descobriu que havia desenvolvido uma relação com Maharaji que ia além da vida. A morte,na verdade, só deu outro significado a uma amizade e devoção que não precisava estar presa a esta única forma de existência. De acordo com a literatura sobre luto, há cinco estágios pelos quais a maioria das pessoas passa após a perda:
Negação ou Isolamento: a pessoa tende a negar e evitar os sentimentos assim que recebe a notícia de que alguém está muito doente ou morreu.
Raiva: Depois da negação, vem a raiva e a falta de controle diante da morte. A raiva pode ser dirigida aos familiares e amigos, mas muitas vezes é dirigida à pessoa que morreu. *Barganha: Fase em que as pessoas tentam racionalizar a morte e evitar as mudanças desencadeadas. “Se eu tivesse feito isso… falado com tal pessoa… procurado uma outra opinião…”.
Depressão: Tristeza normal depois da perda de uma pessoa querida. É importante expressar suas necessidades. Alguns precisam de um tempo para ficar só, outros querem mais tempo com as pessoas próximas. Depende da personalidade de cada um.
Aceitação: Nem todos chegam a este estágio. Mas os que chegam conseguem sentir paz e aceitam a morte como parte natural da vida. É importante lembrar que cada um vai experienciar estes estágios de acordo com a sua relação com a pessoa que morreu. Nem sempre eles vem nesta ordem.
Mas de uma maneira ou de outra o processo parece fazer sentindo para a maioria das pessoas em luto. Em caso de perda ou dificuldades para entender e aceitar, busque suporte ou ajuda profissional. Pode fazer uma enorme diferença.
* Tania Haberkorn é escritora e psicoterapeuta. Depois de morar em Los Angeles, Califórnia, por alguns anos, ela retornou ao Brasil onde continua a atuar profissionalmente em sua area – taniahaber_at_hotmail.com
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